I
Quando eu era menino, lá em Bauru, e o lazer de casa era, à noite, assistir televisão, havia três personagens que, se aparecessem na tela, estragavam o humor de meu pai. Na época, não existia controle remoto e remover o motivo do desgosto era uma operação um tanto trabalhosa, mas, para meu pai, sempre necessária.
Um destes personagens era Ney Matogrosso; me lembro bem da indignação de meu pai (eu tinha 10 para 11 anos) quando, de repente, o locutor anunciava os Secos & Molhados e surgia a figura fantástica de Ney, ostensivamente seminu, com aquela voz enigmática de soprano masculino. O outro era Caetano Veloso, a quem meu pai tinha uma aversão que era extensiva aos outros baianos – Gil, Gal e Bethânia; mas Caetano, talvez por ser o mais assumidamente provocador do grupo, era o que inspirava os mais dolorosos resmungos.